O treinamento desportivo é um conjunto de variáveis distintas que se associam para melhorar a performance de um movimento específico ou de um conjunto de movimentos. Podendo, dentro do mundo da competição esportiva, fazer a diferença e tornar um indivíduo campeão. Sendo assim se faz necessário por parte dos treinadores / professores que atuam direta e indiretamente no processo de desenvolvimento de um atleta, o conhecimento científico real das capacidades desportivas a serem trabalhadas e qual a melhor possibilidade de favorecimento deste complexo processo.
Entre as valências físicas a serem trabalhadas, no treinamento desportivo, a potência muscular é para alguns esportes a mais importante, e talvez a que gere maior controvérsia e/ou dúvida em sua definição, desenvolvimento e formas de treinamento.
Definição
Segundo FLECK & KRAEMER (1999), “potência é a velocidade em que se desempenha o trabalho”. Já para ZATSIORSKY (1999), “potência é a força dividida pela unidade de tempo”.
Seguindo estas definições, várias formas de potência (que na verdade seguem o mesmo princípio) podem ser sugeridas dentro de determinados contextos e necessidades específicas como por exemplo: potência aeróbia, potência anaeróbia (lática e alática), potência muscular, potência explosiva, onde caberá analisar cada movimento e/ou esporte para seguir o princípio da especificidade e fazer uso da potência adaptada a sua condição ótima em cada caso.
Desenvolvimento da Potência
Já que a potência envolve um componente de força, e um de velocidade, fica fácil observar que maximizando a força e/ou a velocidade, aumenta-se à potência. Talvez aí comecem alguns erros na hora de se tomarem decisões a respeito de como se desenvolver e treinar potência. Além disto, aparentemente a ciência é pouco clara em definir qual destes dois componentes influencia mais no desenvolvimento da potência.
A esse respeito, tentando facilitar o processo didático, introduziremos um outro conceito, o conceito de velocidade de desenvolvimento de força (VDF), ou taxa de desenvolvimento de força, mostrando novamente que em uma ação muscular potente, o músculo deve exercer tanta força o quanto possível em um curto período de tempo. Porém não é correto afirmar que necessariamente um músculo que desenvolva mais força, é um músculo mais potente, uma vez que a análise de mais de uma característica é necessária para esta afirmativa.
O treinamento de força usando cargas altas e baixa velocidade na fase concêntrica leva a uma melhora na força máxima, porém com ganhos reduzidos em outros padrões de velocidade (FLECK & KRAEMER, 1999; ZATSIORSKY, 1999). Assim a VDF pode explicar em parte porque muitas vezes o treinamento de força isoladamente não aumenta o desempenho da potência, sendo necessária a combinação de mais de uma valência, a serem treinadas de forma conjunta. Os meios para isto são muitos e variados dentro da literatura, porém todos devem passar por princípios semelhantes.
Treinamento
FARINATTI (2000) coloca que para se gerar força, é necessário se extrapolar o limiar de despolarização das células musculares através de uma estimulação suficiente. A chegada constante de novos estímulos (somação), de modo a diminuir o período disparo-reação (período de latência) seria a conseqüência do desenvolvimento da força.
Todos os autores consultados neste trabalho concordam que para se desenvolver potência, o atleta pouco experiente em treinamento de força, deve passar por um trabalho de força como pré-requisito, que pode variar de alguns meses até alguns anos.
Segundo ZATSIORSKY, (1999), é impossível para o atleta gerar grandes taxas de força em movimentos rápidos, não sendo capaz de gerar força similar ou mesmo superior em movimentos mais lentos. Da mesma forma parece ser consenso a afirmativa de que a relação força-hipertrofia não é necessariamente linear. Apesar de normalmente ocorrer aumento na seção transversa do músculo como conseqüência do treinamento de força ou de potência, as especificidades de objetivos são diferentes, o que leva a adaptações também diferentes.
No começo do trabalho de força, o atleta não experiente neste tipo de treinamento, apresenta uma melhora na performance, uma vez que seu caráter de treinabilidade é alto. Como regra geral, quanto menos treinado é um indivíduo, mais treinável ele será. Já em atletas experientes, o treinamento de força por si só pode ser insuficiente ou pouco expressivo para se melhorar a potência, dependendo da especificidade do trabalho.
A fisiologia humana, entretanto, é dotada de um complexo sistema de preservação funcional que deve ser levada em consideração. Por exemplo, um supino feito em grande velocidade com o intuito de se melhorar o componente de velocidade e assim influenciar na potência pode ser contrapoducende. O aumento na freqüência do impulso neural provavelmente resultará em adaptações que colaboraram para uma melhora na performance, apesar de não se saber claramente se um aumento na velocidade do movimento se dá por um encurtamento mais rápido da fibra muscular, ou pelo impulso neural mais rápido (FLECK & KRAEMER, 1999). Contudo na fase final deste movimento os mecanismos protetores neurais se acionam, ativando os músculos antagonistas ao movimento, reduzindo sua potência e velocidade de aceleração com o intuito de proteger a articulação.
Para se evitar este inconveniente, o uso do treinamento pliométrico ou com ciclo de movimento estende-flexiona resulta em grande aumento da estimulação neural, com um mínimo de inibição ou ativação antagonista. O uso de instrumentos auxiliares como o medicine ball também podem ser indicados (FLECK & KRAEMER, 1999), além de aparelhos isocinéticos (ZATSIORSKY, 1999).
EBBEN (2002) publicou um artigo de revisão sobre a utilização do treinamento pliométrico conjuntamente como treinamento com pesos, apontando este tipo de treinamento (chamado “complex trainning”) como uma excelente forma de se desenvolver potência em atletas treinados.
O treinamento de potência deve ser o mais específico possível. Os músculos atuantes devem ser os mesmos daqueles usados durante o exercício esportivo, e até mesmo a resistência deste exercício deve ser imitada sem, entretanto, exceder o nível no qual o padrão motor seja substancialmente alterado (ZATSIORSKY, 1999), evitando a criação de “maus hábitos motores” potencialmente transferíveis para a realidade esportiva.
Agora falando sobre treinamento aeróbico, um estudo desenvolvido pela universidade de Málaga na Espanha, encontrou melhora na potência de membros inferiores através desse tipo de trabalho que foi quantificado por meio de uma bateria de testes. Entretanto, algumas ressalvas devem ser feitas em relação a este estudo. O “n” era composto de estudantes universitários de educação física, provavelmente ativos e com um bom condicionamento aeróbio inicial que foi melhorado no pós-teste. Outro fator interessante é que o treinamento não era composto apenas de atividades contínuas, mas também de atividades intervaladas e de velocidades progressivas.
Outros autores como FRANCHINI (2001) chamam a atenção para um desenvolvimento prejudicial de força concomitante ao treinamento aeróbio. Acrescenta-se também a esta idéia o conseqüente aumento no volume de treinamento para o atleta envolvido.
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