sábado, 26 de maio de 2012

Controle de peso em atletas de MMA






Recentemente, tem se visto no Brasil o aumento da popularidade de eventos de artes marciais mistas, conhecido como MMA. Apesar dos brasileiros virem se destacando e conseguido resultados expressivos na modalidade há algum tempo, apenas recentemente a mídia televisa vem dando destaque ao esporte.

Como toda boa preparação para competições, a rotina de treino dos lutadores de alto rendimento envolvem, além da preparação psicológica e tática, uma preparação física extenuante, explorando diversas capacidades físicas como força, potência, flexibilidade, capacidade aeróbia e anaeróbia e uma preparação técnica na qual diversas artes marciais e lutas são praticadas visando explorar técnicas das diferentes modalidades. Tudo isso, com a finalidade de tornar o atleta o mais completo e preparado possível para enfrentar seus oponentes. 



Com o crescimento no número de participantes e o destaque na mídia, a modalidade se tornou mais profissional, com a criação de regras para preservar os atletas e privilegiar o espetáculo, tornando-o mais popular. Parte destas regras foram a divisão em categorias por peso como maneira de equilibrar os combates e possibilitar que diferenças grandes de pesos não sejam o fator decisivo para a vitória, assim como seguem outros esportes como o boxe, judô, jiu jitsu, wresting, entre outras,.

Com a criação das categorias de peso, alguns atletas se viram forçados a ganhar mais peso ou mesmo perder peso para se adequar a categoria conveniente. Não é de hoje que atletas, sobretudo de artes marciais e lutas, têm dificuldade de manter o peso para o momento da luta. 

Em entrevistas, lutadores e seus treinadores relatam perdas em torno de 10 quilos pelos atletas poucos dias antes das lutas, assim como uma acentuada recuperação do peso perdido apenas um dia após a pesagem. Embora estes valores pareçam extremamente elevados, há relatos de perdas superiores a 20 quilos em atletas estadunidenses antes de competições. Estas perdas são seguidas de recuperações rápidas, por meio do processo de hidratação e alimentação fracionada. Estas manobras são utilizadas por mais de 80% dos atletas de competição, onde “bater” o peso é fundamental para permanência na categoria (Steen et al. 1990). Desta maneira visam levar vantagem sobre um adversário de menor peso, sobretudo em determinadas situações de lutas onde um peso maior pode ser um diferencial no combate (Steen et al. 1990).

Artioli et al 2010, entrevistaram judocas de elite brasileiros para o conhecimento de sua massa corporal, e as formas de rápida redução de peso para competições. Mais de 85% dos entrevistados estavam acima do peso no momento da entrevista sendo que 33% da amostra estavam entre 5 a 10% acima dos valores da categoria. Destes entrevistados o uso de desidratação e ou restrições alimentares foram as estratégias escolhidas pela maior parte dos entrevistados (Artioli et al. 2010). Percentuais de gordura de atletas de competição já são normalmente inferiores ao da população em geral. A perda de peso se dá basicamente pela perda de água, glicogênio muscular e em menor escala gordura e massa muscular.

Dentre as inúmeras estratégias utilizadas para “enganar” a pesagem e se conseguir esta perda de peso absurda, estão a utilização da sauna, restrição severa de nutrientes e de líquidos, banhos em contraste, além de uso de diuréticos, laxantes e realização de exercícios em condições adversas como com excesso de roupas ou em locais com temperatura elevada, entre outras. (American College of Sports Medicine, Steen et al. 1990). Basicamente, o princípio é desidratar o atleta para que ele chegue ao peso desejado. Mas os riscos desta manobra são inúmeros podendo levar desde a simples perda de performance até a morte. (Sawka et al. 2007)

Outro fator importante é que grande parte dos métodos que levam a perda de peso pela desidratação envolve aumento da temperatura corporal, de forma a acentuar a sudorese. Nosso organismo procura constantemente o estado de equilíbrio. A temperatura corporal de um indivíduo saudável gira em torno de 36°C a 37,5°C, em que há conservação das funções metabólicas . Uma das tentativas de manutenção da homeostase térmica é a vasodilatação, com a troca de calor com o ambiente e a estimulação das glândulas sudoríparas para produção de suor. Quando esta tentativa é frustrada, seja pela temperatura e a umidade relativa do ar do ambiente estar elevada, seja pelo uso de roupas que dificultam a troca de calor, o organismo sofre com a elevação da temperatura interna. Estas elevações de temperatura levam progressivamente o organismo a perda de rendimento, estados de confusão mental, falta de coordenação motora, insuficiência renal aguda, rabdomiólise e colapso; em termos de desempenho, reduz a capacidade aeróbia, diminui o tempo de instalação da fadiga e aumenta o acúmulo de calor (Armstrong et al., 2007, Sawka et al., 2007)

Muitas vezes os atletas utilizam mais de uma forma de perda de peso como visto no trabalho de Kiningham et al. (2001), onde 12% dos atletas utilizavam até cinco métodos de perda de peso durante uma semana. Estas manobras são utilizadas no período de aproximadamente 7 dias antes da luta e estes ciclos se repetem ao longo dos anos e da vida esportiva de atletas, tendo seu início muitas vezes na infância e adolescência, o que pode trazer riscos sérios de desenvolvimento e de problemas psicológicos associados a alimentação. (Kiningham et al. 2001)

A literatura é conflituosa e carente sobre a eficiência da utilização dos ciclos de perda rápida e recuperação de peso antes das competições. Horswill e colaboradores em 1994 não encontraram relação positiva vantajosa em atletas de luta olímpica sobre a recuperação do peso perdido 20 horas antes da competição e conseqüente recuperação nem em valores absolutos e nem em relativos, fato este corroborado com outros autores

No entanto, alguns artigos traçaram correlações positivas entre os ciclos rápidos de perda e recuperação do peso com o sucesso em competições. (Alderman et al. 2004, Wroble et al. 1998). Certo é, que durante os processos de perda de peso acentuados, os níveis de hidratação ficam prejudicados, assim como os estoques de glicogênio muscular, perda de massa muscular, perda de eletrólitos, etc. Muitos destes não recuperados para os momentos das lutas.

Relatos de fraqueza, sonolência, cãibras, confusão mental, perda de força, desmotivação, são comuns durante o processo de perda de peso. Já no processo de ganho de peso, são comuns náuseas, diarréias, dores de cabeça, e hiponatremia. Em um posicionamento feito em 1996 o Colégio Americano de Medicina do Esporte já alertava e orientava os praticantes de artes marciais e lutas dos riscos da perda de peso rápida antes de competições.

Com relação à queda de performance, após períodos de perdas de peso acentuadas em curto espaço de tempo, a literatura não é conclusiva em afirmar que atletas submetidos a estas manobras tenham prejuízos na capacidade anaeróbia e aeróbia. A variação estratégica para diminuição de peso, intervenções voltados para reposição de líquidos e nutrientes, associados a diferentes tipos de protocolos dificultam a uma definição sobre o assunto.

Independente da perda da performance, é necessária a atenção especial de treinadores, pais e atletas para as estratégias utilizadas para a redução de peso, e no tempo em que esta perda estará sendo realizada. Organizações esportivas devem encontrar formatos para evitar que tragédias aconteçam, instituindo regras ou avaliações constantes de seus atletas, como por exemplo o monitoramento durante a temporada, permitindo variações mínimas durante o período pré competitivo até o momento da luta ou até mesmo a pesagem momentos antes da luta como forma de coibir tais práticas.

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