A função biomecânica eficiente do pé depende de sua capacidade em agir como adaptador, absorvendo choques ao contato com o solo, conversor de torque durante o ciclo do andar (Silva Júnior, 1999) ou correr e permitir estabilidade ao indivíduo em posição ereta (ortostática).
Apesar deste fato, a utilização de calçados de salto alto com suas diferentes alturas torna-se cada vez mais comum, devido à estética e aos detalhes da moda atual, independente dos avanços no sentido de transformar este tipo de calçado em um sapato tecnicamente funcional. Para Nasser et ali (1997), o mais correto seria um calçado que levasse em conta a força de impacto do chão e o controle de movimento do retropé e a orientação do pé.
Segundo Marrifield (1971), citado por Nasser (1997), o aumento de altura dos calcanhares provoca instabilidade e modificações no padrão de caminhar, fato confirmado por Oliveira et ali (2000), que verificou que o uso de salto alto levava a instabilidade na relação de forças de contato com o solo durante a caminhada.
Outro fator importante se deve ao fato de maior participação do antepé e conseqüentemente menor participação do retropé no caminhar, conforme confirmado por estudos de Nasser (1997), o que propicia modificações na estrutura do pé (patologias) e menor eficiência mecânica, (Oliveira, 2000) na etapa flexão de joelho, comparado com pessoa em estado "normal" (Whittle apud Manfio, 1995). Comparando os valores de força e pressão no caminhar com salto, se verificou valores de 1.1 à 1.5 vezes o peso corporal (Oliveira, 2000), números bem maiores que em pessoas descalças (Bruniera e Amadio, 1994).
Machado (1988) verificou, que mesmo o uso de salto não podendo explicar que o 1° metatarsiano nas mulheres geralmente é curto e varo comparado aos homens, o salto pode propiciar uma maior incidência de hálux valgo nas mulheres.
Por fim, Soames (1982) e Nasser (1996 e 1997) verificaram que o uso de salto altera o perfil normal de pressão no pé com uma menor pressão na lateral e na região medial do pé, além de aumento da altura do arco plantar, que segundo Rasch (1991), pode aprofundar patologias já existentes ou criar patologias não evidentes. Além do que, o pé em supinação está correlacionado a 85% de lesões nos esportes (Rasch, 1991), o que pode demonstrar que nesta posição o indivíduo está mais propicio a lesão.
Portanto, o objetivo deste artigo não é a exclusão do salto na moda atual, mas permitir um uso mais racional deste calçado no dia a dia. Por outro lado, permitir uma reflexão mais profunda sobre alguns dogmas e crenças presentes em nossa sociedade em que se cria um temor a musculação por ser um treinamento ‘’lesivo’’ como muitos ‘’experts’’ em saúde afirmam, sem o mínimo conhecimento científico sobre o assunto. Não se critica hábitos potencialmente lesivos (comprovados cientificamente) como o uso do salto alto. E, ainda se esquecem que um exercício de MMII (membros inferiores) pode durar no máximo em 3 a 5 minutos com carga elevada e que um dia de treino muscular de MMII (membros inferiores) não passa de 1 hora o que propicia um menor desgaste articular do que um dia INTEIRO no uso de salto, sem falar no controle existente do movimento.
Então, caro leitor, antes de alguém dizer que se lesionou realizando exercícios resistidos ou que sente dores ao realizar a musculação é necessário conhecer seus hábitos do dia a dia.
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